Carta aberta aos motoristas

Olá, motorista. Tudo bem? Eu sou o ciclista.

Aquele cara que você vê na beirada da pista e comenta “que cara estranho”. Aquele que você sempre passa raspando quando o ultrapassa a 60 km/h e é ultrapassado de volta quando você fica parado no farol.

Aquele de capacete engraçado. Pois é, também não gosto dele, mas esse capacete esquisito é minha única proteção no caso de você encostar seu bólido de 800kg em minha bicicleta de 15kg e me derrubar. Cair de cabeça no asfalto dói, e muito…

Eu venho em missão de paz. Talvez você não goste de mim, ou simplesmente não saiba quem eu sou e me veja como um estranho. A tendência natural do homem é de oprimir o que é estranho, então por isso que eu venho me apresentar.

Eu sou seu amigo. Não precisa ter medo e nem raiva de mim. Eu não estou na rua pra atrapalhar seu caminho, tampouco roubar espaço de você. Muito pelo contrário, eu ocupo muito menos espaço que um carro!

Muitas vezes gritam comigo falando para eu ir pedalar na calçada. Mas eu não posso ir pra lá,  pois lugar de veículo é na rua, , conforme descrito no Código de Trânsito Brasileiro! Aliás, eu adoraria muito pedalar longe de seu carro e zelar pela minha segurança, mas infelizmente, na região, não há locais onde eu possa conduzir minha bike longe de seu veículo, apesar de, por lei, estar decretado que deveria haver espaço para que as bicicletas pudessem circular livremente e em segurança. Então, por isso, devemos compartilhar as ruas, que é de direito tanto seu quanto meu de usarmos.

Se você me ver na sua frente, não precisa buzinar ou xingar, porque não estamos fazendo nada, apenas seguindo nosso destino. Pelo contrário, cumprimente, dê bom dia, peça passagem… eu sou bastante educado e cordial, com certeza eu abrirei espaço para que você possa me ultrapassar e seguir sua viagem.

É só isso que eu queria dizer. Apenas lembre-se que eu sou um carro a menos na sua frente, jogando fumaça na sua cara, roncando motor e buzinando. Quando me ver pedalando do seu lado, lembre-se que não sou um ser de outra espécie. Eu sou um ser humano indo pro trabalho, pra escola, visitar minha mãe, indo me divertir… assim como você.

Aliás, fica aqui meu convite. Experimente trocar, pelo menos uma vez, o isolamento de sua bolha metálica que você chama de carro pela aventura de sentir o ar na sua cara, de se integrar à cidade, de fazer bem à seu corpo e sua mente que é andar de bicicleta. Deixe de ser mais um rosto escondido por trás do pára-brisa e vire uma pessoa na rua, com um sorriso na cara. Deixe seu motormóvel (veículo dependente de um mecanismo não-sustentável para se locomover) e experimente o verdadeiro automóvel (veículo que só depende de você). Sinta a magia de percorrer grandes distâncias sabendo que você chegou lá apenas com o impulso de suas próprias pernas. Eu garanto, é algo mágico que você nunca vai esquecer.

Um abração!!!

O ciclista

Uma resposta para “Carta aberta aos motoristas

  1. Muito bom esse texto! Deve desarmar qualquer motorista mais enfurecido na rua. Ou deveria, sabe-se lá o grau de stress acumulado de cada um…

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